O dia 11 de fevereiro foi escolhido e pela ONU como o Dia Mundial das Mulheres e das Meninas na Ciência. Para celebrar a data, a pesquisadora e professora Lucélia Magalhães fala sobre os desafios enfrentados por mulheres na carreira científica.
Escrever sobre Mulheres e Meninas na Ciência é um desafio. Ainda somos minoria entre os pesquisadores e nossas produções têm pouca visibilidade, na maioria das vezes. Os livros de biografias das mulheres que produziram ciência inovadora, e que contribuíram de forma positiva com a vida das pessoas, mostram trajetórias penosas e sobrecarregadas, muitas vezes ofuscadas pelos maridos, companheiros e chefes de laboratórios.
Exemplo bem fácil foi a vida de Marie Curie, escrita por Rosa Montero, sua biógrafa da vida doméstica. Vemos uma mente brilhante atordoada com as responsabilidades familiares e maternais. Marie morreu de câncer, provavelmente pela radioatividade, deprimida e sozinha.
Outro exemplo emblemático foi a primeira mulher de Albert Einstein, Mileva Maric. Encontrar dados da sua vida e produção são bastante difíceis. Frases da família de Albert como “intelectual demais” ou “uma velha bruxa”, definem o preconceito latente no início do século XIX. De acordo com relatos dos filhos, Albert e Mileva sempre trabalhavam juntos. Ela era uma física e matemática brilhante, porém todas as produções saíram em nome do esposo. Outro dado interessante é que na escola de física em Zurique – a única que permitia o ingresso de mulheres à época – Mileva obtinha melhores notas que Albert.
Estes exemplos dão conta da difícil trajetória de mulheres que desejaram produzir conhecimento. Assim, coloco que comemorar o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência possa, a cada dia, é um alerta para meninas, meninos, mulheres e homens e toda a sociedade. Possibilitar às mulheres trabalharem em projetos pode ajudá-las a desenvolverem todo o seu potencial e capacidade de inovação e criatividade nas ciências em geral, principalmente nas ciências médicas.
A minha trajetória de pesquisa, bem longe da genialidade exemplificada acima, tem acontecido com as dificuldades habituais de uma nordestina, que se casou precocemente, que possui filhos, marido e netas, e nunca conseguiu viver de pesquisa. Meu primeiro financiamento ocorreu neste ano de 2021, pelo PPSus. Todas as produções foram de forma voluntárias, com alunos de graduação, e agora com alguns de pós-graduação. Constituir um grupo de pesquisa sobre Envelhecimento Vascular Precoce (VOP), o VASCOR, tem sido uma corrida de obstáculos intensos, porém, a cada meta ou publicação alcançada, sinto uma sensação indescritível de realização e de um grande propósito de vida.
Minha família foi especial e sempre me deu apoio em todos os níveis. Apesar de todo este empenho e suporte, sem o incentivo da Rede FTC nossas produções não seriam possíveis. Foi fundamental este apoio incondicional e por isso desejo e espero que a sociedade, sobretudo as instituições, possam ter o entendimento de que produzir conhecimento é o melhor investimento em tempos de tantos desafios.
*Lucélia Magalhães é doutora em Saúde Pública, coordenadora do curso de Medicina da Unesulbahia, professora titular de Clínica Médica do curso de Medicina da FTC Paralela e faz parte do Programa Institucional de Iniciação Científica da Coordenação de Pesquisa, Extensão e Iniciação Científica da instituição.